ÉPOCA 16/05/2008 - 23:52 Edição nº 522"É um vazio profundo. Sinto isso todos os dias"
Em entrevista a ÉPOCA, Ana Carolina de Oliveira, mãe de Isabella, fala sobre como tenta superar a dor de uma perda irreparável
Na manhã da quinta-feira (15), a mãe de Isabella Nardoni, Ana Carolina de Oliveira, recebeu a repórter de ÉPOCA Kátia Mello na casa onde morava com a menina, na zona norte de São Paulo. Por mais de duas horas, Carol – como é conhecida na intimidade – falou sobre sua vida antes e depois da morte da filha, assassinada em um crime brutal há pouco mais de um mês. Foi o mais longo depoimento da mãe de Isabella desde o crime, e o primeiro a uma revista. Durante a entrevista, sem esconder a dor pela perda da filha, Carol mostrou a mesma coragem, firmeza e serenidade que tem exibido desde a noite do crime, em 29 de março. O inquérito policial, que durou um mês, apontou o pai de Isabella, Alexandre Nardoni, e a madrasta da menina, Anna Carolina Jatobá, como responsáveis pelo crime. Os dois estão presos e tiveram seu pedido de habeas corpus negado pelo Superior Tribunal de Justiça. Enquanto o processo segue seu lento curso, a mãe de Isabella tenta aos poucos reconstruir sua vida. Vem progressivamente retomando o emprego em um banco e está fazendo terapia.
Na reportagem Carol fala de Isabella e do apoio que tem recebido da família, dos amigos e até de desconhecidos, o que, segundo ela, a tem ajudado a suportar o luto. A mãe de Isabella contou alguns dos episódios que mais a marcaram desde o crime, como pais e mães que lhe relataram dramas dolorosos que guardam algumas semelhanças com seu caso. A seguir, o trecho inicial da matéria.
A coragem de Carol
Como vive a mãe da menina Isabella, Ana Carolina de Oliveira, cuja serenidade diante da tragédia tornou-se um exemplo para todo o país
É a própria Ana Carolina de Oliveira que vem me atender, à porta da casa, na manhã ensolarada de quinta-feira. Por um comprido corredor lateral, entro no sobrado de paredes bege, na estreita e tranqüila Rua José de Almeida, na Vila Gustavo, bairro de classe média da zona norte de São Paulo. Sobre uma mesinha no corredor, ao lado de um pequeno quadro de Maria com o Menino Jesus, descansa enrolada em terços uma imagem de Santo Expedito, o padroeiro das causas urgentes. Ana Carolina – ou Carol, como a chamam os amigos e parentes – é uma mulher de 1,53 metro, esbelta e muito bonita, mesmo sem maquiagem ou adorno. Os cabelos pretos e ondulados, cortados curtos, emolduram seu rosto de traços delicados, marcado por olheiras profundas. Ela veste uma camiseta branca e uma calça de moletom azul-escuro. Gentil, a mãe de Isabella – a menina brutalmente assassinada em 29 de março, dias antes de completar 6 anos, crime pelo qual foram acusados e presos Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, pai e madrasta da menina – pede-me que espere um pouco. A voz alegre da menina que pedia para ligar a TV e ver desenhos animados não ecoa mais na casa – onde ela morava desde que nasceu –, mas Isabella está presente em todos os cantos. Na sala, sobre um aparador, há vários retratos dela com a mãe, os tios, os primos, os avós maternos e a melhor amiga, a prima Giovanna, sobrinha de Carol que tem quase a mesma idade de Isabella. No primeiro degrau da escada que dá para os quartos repousa uma bolsinha roxa e cor-de-rosa, com os apetrechos das bonecas de Isabella. Ao lado, estão empilhados seus álbuns de fotografias. Entre os objetos espalhados pela sala, há uma almofada com retratos de Isabella, um dos muitos presentes que Carol recebeu de desconhecidos no Dia das Mães. Carol ajeita-se em um confortável sofá marrom e começa a falar. O semblante é de dor, mas a voz é firme e pausada. Impressiona pela serenidade. A tragédia fez de Carol uma figura nacional. A mãe de Isabella é reconhecida por onde anda. Alguns apenas a apontam. Outros querem abraçá-la. Logo depois da morte da menina, Carol preferiu o recolhimento e o silêncio. Alguns interpretaram essa atitude, erroneamente, como frieza. Na verdade, ela diz que precisava desse tempo – precisava entender o que estava acontecendo. “Foi a minha filha que morreu”, diz, lembrando o que muitos parecem ter esquecido.
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